domingo, 30 de novembro de 2008

Frenesi (parte 1)

Leonardo sabia o que tinha que fazer. Fugir a qualquer custo daquele que foi contratado para matá-lo. O problema é que ele não sabia quem era, não sabia nem o sexo do tal mercenário. Ele se arrepende amargamente de ter feito aquela bobagem com conseqüências horríveis e por causa disso ser jurado de morte pelo fazendeiro mais poderoso da redondeza. Ele acabara se apaixonando pela filha do seu maior inimigo, mas essa paixão era proibida, já que a irmã de sua amada o queria e faria de tudo para te-lo, mesmo que fosse engravidar de um dos peões e dizer que fora Leonardo que a engravidara. Ele desconfiou quando recebeu uma carta apaixonada de sua amada, que até então tinha evitado se aproximar dele a qualquer custo. Na carta ela pedia para ele entrar de madrugada em seu quarto, onde seus corpos se tocariam e a paixão entre eles seria consumada e os dois saberiam que eram feitos um para o outro. Ele não contava que era apenas uma armadilha da irmã obcecada. O pai dela o obrigou a se casar, e ao ouvir Leonardo negar, o jurou de morte. Leonardo foi para o Rio de Janeiro, onde achava que ali no meio daquela multidão, não seria notado.
Iuri era um homem excêntrico. Desde pequeno só se interessava por trabalhos que ninguém tinha estômago para realizar, como inseminador de vacas ou domador de leões famintos de circo. A paixão pelo risco o levou a ser um piloto de avião clandestino para o tráfico de drogas, e como hobby e trabalho, ser assassino mercenário. Nunca matava com faca, arma, coisas óbvias. Gostava de matar com coisas inusitadas. Uma de suas vítimas era um senhor que todo dia de manhã ia no parque fazer cooper. Ele começou a acompanhá-lo, correndo uns 30 passos atrás dele e ouvindo seu mp3. Num dia particularmente vazio do parque, ele passou cerol no fio de seu fone de ouvido, e quando estavam mais afastados, o estrangulou/degolou ao som de Frank Sinatra. Outra vítima sua andava de ônibus mesmo sendo milionário, um ecochato que incomodou demais as grandes empresas. Iuri começou a sentar ao seu lado com um jornal, fazendo palavras cruzadas. Um dia ele perguntou qual era o fruto que é mais produzido no Acre, com 7 letras. Quando o ecochato puxou o jornal para si para ver quais letras já tinham no quadro, Iuri enfiou uma caneta Bic particularmente afiada em sua jugular. Era assim que ele vivia. E adorava.
Leonardo era médico e facilmente conseguiu trabalho numa clínica como cardiologista. Sua assistente era apaixonada por ele, mas ele não dava atenção, só pensava em Fernanda. Iuri recebeu a visita de um senhor calvo, tenso e pesado, que logo começou a falar. Deu uma foto para ele, disse que precisava de uma prova do assassinato e que daria a outra metade do pagamento quando o trabalho fosse resolvido. A foto era de Leonardo. Iuri começou a pesquisa-lo na internet, já que a única informação que tinha dele era seu nome completo, profissão e rosto. Logo descobriu que Leonardo foi abandonado numa creche junto com outra criança. Iuri demorou uns dois segundos para absover a informação: Leonardo era seu irmão.
Fernanda, não conseguindo mais agüentar de tristeza com tudo que aconteceu, roubou o endereço do tal mercenário que seu pai contratara para matar Leonardo, pegou a arma de seu pai e rumou para Rio de Janeiro na intenção de matar o algoz de seu amor e se reencontrar com Leonardo. Ana, sua irmã, percebeu sua fuga e foi atrás dela. Fernanda, ao ouvir um barulho logo atrás de si, com o susto, atirou. Um grito percorreu toda a fazenda. Fernanda percebeu que acidentalmente atirou no peito de sua irmã. Os empregados da fazenda saíram correndo com o tiro, e seu pai a prendeu no quarto: “você nunca saíra daqui!”. Os sentimentos de Fernanda eram confusos: A urgência de encontrar Leonardo, o peso de seu homicídio culposo, a raiva do pai, o luto repentino por sua irmã. Ela não ficou louca naquela noite por um milagre. (...)

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